Era uma vez…
À noite, o João sonhava sempre o mesmo sonho. Os elefantes amarelos que bebem de um lago mágico, sonham que têm asas e descobrem a porta para o céu azul. Mas não havia meio de lá entrar, acordava sempre antes de lá conseguir chegar… +
quem sou eu, espelho meu… sou o curioso que passa, o turista da sé, o morador da rua escura, a peixeira do mercado; sou pintor, esteticista, empreiteiro, informático, estudante, jovem artista. sou o pessoal operário à saída da fábrica confiança. nasci aqui ou sou de cá. português, angolano, indiano, lituano, brasileiro, chinês ou cigano. sou um de 27 mil entre os 220 mil e tal. Ler mais…
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a vida é demasiado curta para andar metida no bolso. para ficar contida no riso ou no choro, no grito ou no palavrão. demasiado breve para se perder nas hipóteses. para não ser experimentada ao pormenor. a vida é demasiado efémera para ficar dobrada na gaveta. para ser gasta em contemplação. Ler mais…
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Um novo advérbio, helenamente. As palavras de Ruy Belo que dizem a maneira mais triste de se estar contente, sozinhos entre a gente. É assim Helena, a Primavera da história. Vive firme na procura de seu José-o-homem-dos-sonhos, que um dia partiu dessa rua alegre que é Vila do Conde. Judas, ardiloso e machista, quer Helena para si, qual Inverno ruim. E todos leva na confusão… os cupidos e os diabretes, os artistas do circo e as mulheres do mundo, a bela Marylin e o rapaz-memória. Mas quando o cosmos se endireita, a história dá uma volta: É triste ir pela vida como quem regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro… – Vais morrer Judas! E o mundo viaja no tempo, para nos dar uma segunda oportunidade.
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hoje parti um espelho. um desafio à sorte, que me permite passar para o outro lado. ouso olhar para mim e encontro-me na rua da abundância. da velocidade imposta, da dependência absoluta, dos saberes dispersos, das armas disparadas, da natureza desprezada, das leis duvidosas… se esta rua fosse minha, regava todos os dias o meu jardim! usava o ar parar respirar e viajar, o mar para mergulhar e pescar, o outro para amar, o trabalho para actuar. porque somos todos iguais na efemeridade. porque prisão maior é a da ignorância e da indiferença. porque se a originalidade pode estar em vias de extinção, a criatividade não. desisto então de desvendar o mundo, para apenas me localizar nele. olho ao espelho e estico o dedo: estou aqui.
havia um muro bem alto que separava o mundo de uma caverna escura, onde se mantinha prisioneiro um grupo de homens desde sempre. acorrentados e privados de luz, as sombras dos outros homens que passavam frente à caverna eram a única coisa que alguma vez haviam visto. Ler mais…
somos nós e estamos todos aqui. expostos nas prateleiras, brinquedos de um sistema. somos os últimos preços de um saldo de verão. nós, a profissão, a idade, a experiência e um ou outro defeito. somos bons produtos, mão-de-obra especializada, boa apresentação e educação aprimorada, saber dos livros e das línguas acumulado no passivo da memória, facilidade de relacionamento, de adaptação e de integração. Ler mais…