escura. ou então estava sempre de noite. não havia luminosidade que reflectisse naquelas paredes e que secasse os complexos padrões em degradé cinza que se estendiam verticalmente à beira da janela por onde a água entrava a potes nos dias violentos de chuva daquele ano infernal. as divisões multicavam-se no espaço quase ao mesmo tempo em que o próprio sonho procurava dali uma saída. havia uma espécie de corredor principal a partir de onde se concentravam todos os compartimentos de facto utilizados: um canto para a cozinha, um recanto para o quarto, uma ponta para a banheira. com ou sem portas entre eles, não me lembro. depois existia um quadrado, literalmente um quadrado de madeira, com uma escada-de-emergência-tipo-americana que dava para um outro lado qualquer. e à direita, abria-se uma porta, que descia para um meio-piso abaixo, para um outro corredor, que fazia lembrar um bar em forma de carruagem de comboio, onde parei uma vez numa vila do alto alentejo interior. tinha janelas este lugar, mas outra vez estava azul-escuro lá fora. sentia frio porque não tinha gente e os espaços precisam de corpos e de movimento para devolver o calor em efeito de estufa. havia ali esquecimento, naquela que era ainda a mesma casa por onde entrara neste sonho. mas havia um sítio ainda mais esquecido. porque não era necessário, não era prático. e eu nem sabia muito bem como lá chegar. tinha de atravessar uma espécie de pátio interior, feito de terra vermelha, mais marroquino que os próprios souks do magrebe. e vendiam-se coisas lá. marroquinarias. logo mais à frente havia uma luz branca e um acesso. eram afinal uns degraus de pedra branca, quase gelada, que sugeriam qualquer coisa próxima de uma gruta debaixo de neve. a porta desse outro aposento da mesma casa, um local quase proibido, tantas eram as nenhumas vezes em que se lá entrava, conduzia a uma velha sala senhorial que cheirava a mofo. o soalho não rangia, o papel de parede em tons predominantemente verdes não estava danificado e os velhos móveis pesados não estavam estragados. da sala acedia-se a uma outra sala através de uma porta de ligação. e daí para outra. e ainda para outra… parecia não ter fim ou formar um círculo, mas não o descobri. era a minha casa dentro do meu sonho e os meus os amigos estavam a chegar em visita. 2009
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